Integrantes do LabConeSul propuseram o simpósio "Por uma história social das instituições e profissões – fronteiras e identidades dos campos sociais através das atividades ocupacionais e profissionais a partir da História do Cone Sul (séculos XIX e XX)" no Encontro Internacional Fronteiras e Identidades na UFPel - Pelotas - RS. O simpósio ocorreu no dia 26.09 e teve a participação dos seguintes pesquisadores:
Geandra Denardi Munareto
A
regulamentação da Medicina no Rio Grande do Sul e a construção da identidade
profissional (1920-1940).
Este trabalho busca entender como se dá a
formação de uma identidade dentro do grupo médico no Rio Grande do Sul, meio a
um contexto de disputas em torno da regulamentação de sua profissão e da
tentativa de neutralização das práticas populares de cura e de seus agentes,
com o estabelecimento de uma Medicina Científica, praticada por profissionais
habilitados, que possuíssem um diploma acadêmico. Dentro desse processo, os
médicos conseguem estabelecer sua hegemonia dentro da área da saúde, ganhando
posição de destaque, o que possibilitou a este grupo estabelecer “o que era ser
médico” na época, e qual o seu papel dentro da sociedade. Para isso, foram
travadas lutas não só no campo social e político, mas também no campo
simbólico. Não bastava somente acabar com a concorrência com os profissionais
sem diploma acadêmico por meios legais, impondo o fim da liberdade
profissional. Era preciso unificar o grupo, superando as divergências e também
convencer a população de que a medicina acadêmica era superior as demais artes
de curar.
Monia Franciele Wazlawoski da Silva
Revista
EGATEA: conhecimento técnico e política na Escola de Engenharia de Porto Alegre
(1914-1934)
A Escola de Engenharia de Porto Alegre (EEPA)
é reconhecida por sua preocupação com o ensino técnico e científico, este
assinalado pela própria organização da escola, seus institutos e grade
curricular. Publicada a partir de 1914, a Revista EGATEA foi o órgão de
imprensa oficial da instituição de ensino, e apresentava um discurso de difusão
do conhecimento e de defensora da Engenharia e da Ciência como pressupostos ao
progresso e desenvolvimento do país. A presente comunicação analisa, portanto,
o periódico a partir de suas relações com a EEPA, com a engenharia como
profissão, e com a conjuntura histórica do período. Através da análise de
documentos da Escola e da própria revista, e fundamentando-se nas teorias e
metodologias para história da imprensa, pode-se afirmar que além de defender os
interesses dos engenheiros como profissionais, e de divulgar o conhecimento
produzido na EEPA, a EGATEA estava em consonância com os interesses políticos e
econômicos do Partido Republicano Rio-grandense.
Thiago Aguiar de Moraes
A
atuação dos membros e colaboradores dos Institutos de Pesquisas e Estudos
Sociais em cargos públicos federais: origens sociais, trajetórias e
reestruturação do Estado (1961-1988)
O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais foi
criado no Rio de Janeiro pouco após a renúncia de Jânio Quadros e a ascensão de
João Goulart por civis e militares para defender a “democracia” contra o
“comunismo”. Desencadearam uma campanha
de desestabilização do governo de Jango através de uma ação política
descentralizada, com a criação de outros IPÊS em São Paulo, no Rio Grande do
Sul e em Minas Gerais, por exemplo, efetivando uma conspiração civil-militar
que culminou com o golpe em 1964. Houve uma “colonização” do aparato estatal
pós-golpe por membros e colaboradores do IPÊS. A presente pesquisa, ainda em
estágio inicial, tem como objetivo geral analisar as origens sociais e
trajetórias dos membros e colaboradores dos IPÊS de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul que ocuparam cargos federais após o golpe
militar de 1964, bem como sua atuação no aparato estatal. Para cumprir tal
objetivo, faremos um estudo prosopográfico. Questionaremos principalmente sobre
se há padrões de comportamento destes indivíduos ao longo do período estudado,
que vai do pré-golpe à “redemocratização”, quais as condições que os levaram às
posições que ocuparam, se os IPÊS realmente serviram de trampolim para o poder,
e as características das atuações destes indivíduos no aparato estatal, bem
como as possíveis relações com suas origens sociais e participação nos IPÊS.
Leandro Fonseca
A
Profissionalização do futebol a partir da ótica do S.C. Internacional
(1928-1942).
A presente comunicação pretende abordar os diferentes
aspectos da profissionalização do futebol, a partir do ponto de vista da
instituição do Sport Club Internacional que, no decorrer das décadas de 30 e
40, foi diretamente influenciada por esse processo. Entende-se a
profissionalização do futebol no Brasil como um processo que teve origem nos
Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, e que encontrou terreno fértil no
Estado gaúcho. Os principais conceitos trabalhados serão: Modernidade, Poder
Simbólico e Profissionalização. Serão ainda definidas as trajetórias
biográficas dos principais personagens, que envolveram esse processo, dentro da
instituição em questão, como Ildo Meneghetti e Antenor Lemos. Este projeto, que
dará origem a uma monografia, se baseará, principalmente, na metodologia da
análise comparativa. Esta metodologia permite o estabelecimento de semelhanças
e diferenças entre os fatos investigados, influências entre grupos sociais – ou
profissionais -, além de possibilitar um conhecimento mais integrado, mais
completo, uma vez que permite enxergar novos problemas, ou singularidades entre
processos e estruturas. Por fim,
pretende-se debater as dificuldades e obstáculos que envolvem o estudo da
história do futebol, dentro da História Social.
Jefferson Teles Martins
O princípio da organização do
meio intelectual contemporâneo no Rio Grande do Sul: a tomada de consciência
dos intelectuais gaúchos.
Pensar
a organização do meio intelectual contemporâneo no Rio Grande do Sul impõe uma
reflexão sobre o processo de transição por que passa um grupo de indivíduos em
condições de existência “homogêneas” que lhes permite práticas semelhantes,
para um grupo que se reúne e se organiza para uma luta comum. Tentar entender a
tomada de consciência de um grupo
torna necessário compreender a passagem do grupo objetivo para o grupo mobilizado,
em outras palavras, todo o processo de mobilização para que o grupo organizado
venha a existir. Implica a dupla ruptura, com a “ilusão intelectualista” que
confunde o grupo “no papel” com o grupo “real”, e com a falsa idéia de que o
primeiro se transforma no segundo automaticamente. Para fins desta comunicação,
será levado em conta como pressuposto da organização do meio intelectual
contemporâneo no Rio Grande do Sul, a tomada
de consciência dos intelectuais gaúchos, cuja expressão mais visível foi a
sua mobilização como “corporação intelectual”.
Marcelo Vianna
Reflexões sobre trajetórias políticas e profissionais – os casos
das elites de bacharéis de Direito e Engenharia no Rio Grande do Sul
(1930-1964).
Quais as relações entre as elites
dos bacharéis em Direito e Engenharia com a estrutura burocrática e política do
Estado entre os anos 1930 a 1964? Essa comunicação apontará para uma tentativa
de resposta, ainda de caráter exploratório, que consistirá em identificar os
agentes que combinam a atuação em postos associativos profissionais e
políticos, integrando assim uma elite político-administrativa do Estado do RS,
assim como perceber os recursos necessários para ocupar altos postos
associativos, acadêmicos, burocráticos e político-partidários. Deste modo,
empregaremos a análise de trajetórias de personalidades dos meios do Direito e
Engenharia, como Ajadil de Lemos e Clóvis Pestana, a fim de compreender os
processos que os distinguiram – frente aos seus pares – em suas trajetórias de
ascensão política e profissional. Justificamos o trabalho como uma necessidade
maior de reflexão sobre a ação dos agentes sociais frente à formação de quadros
burocráticos de nível superior no Rio Grande do Sul pós-1930, a
institucionalização de profissões no Estado e as relações profissionais com o
campo político.